A DÉCADA DE 1980

A década de 1980 foi muito significante para as Armas de Pressão.

Em 1982, o Field Target, criado na Inglaterra chegava aos EUA e os adeptos se esmeravam com suas springers com potência abaixo de 14 Joules equipadas com lunetas 4 x 32 e retículos 30/30. No mesmo ano a Theoben Engineering iniciava a produção de suas carabinas com 'Gas Ram' e a outra empresa Britânica, a Daystate lançava a concepção moderna das armas PCP e, em 1984 o tiro de pressão estreava como modalidade olímpica nas Olimpíadas de Los Angeles.
Essa também foi a década de John Whiscombe com suas springers de dois pistões contrapostos para anular o recuo e com aparência de PCP.

No Brasil, a Gamo se aventurou em instalar uma unidade de produção e CBC, Rossi e Taurus, sendo que esta última herdou os projetos da Gamo, fabricavam carabinas de baixa potência, porém com alta qualidade, quando havia no mundo, maior confiança nos jovens e o famigerado politicamente correto não era bandeira da censura enrustida, que hoje, dentre tantas interferências disfarçadas na liberdade de expressão, também cerceia o direito de os cidadãos de bem terem armas.

Mas, política e ideologias à parte, fato é que armas de pressão com potência abaixo de 14 Joules eram adotadas legalmente por Ingleses e Americanos para a caça de aves e abate de 'pragas' sem que a maioria sequer fizesse ideia da potência de suas armas e a qualidade dos chumbinhos comparada com o que temos hoje era muito pobre. Para os brasileiros, a carabina Urko modelo 3 era tida como arma potente e a numeração dos modelos da marca gerou a 'besteira' propagada até hoje, das molas "duplas" e "triplas".

Pois é, os vendedores da época, leigos, diziam aos clientes também leigos, que a Urko modelo 2 tinha mola dupla e que a modelo 3 tinha mola tripla e, três décadas depois ainda há quem repita tal besteira. Eh Brasil!

Eu, ainda adolescente, tive a oportunidade de viver essa época e de conhecer as armas de pressão que se tornaram ícones e era o máximo poder instalar o que se chamava "Telescopic Sight" ou Mira Telescópica na carabina de pressão, embora tal denominação estivesse errada, pois, os "Riflescopes" ou Lunetas não são Telescópios. E em terra Brasilis as carabinas de pressão eram chamadas de "Espingarda de Chumbinho" ou "Espingardinha de Pressão". Aliás, não é incomum ainda ouvirmos pessoas mais velhas usando essas denominações.

Contudo, o mais interessante de se avaliar é que naquela época a preocupação não era com a potência, mas com os acertos. Os mais velhos, salvo exceções, não davam grande atenção às armas de pressão, mas se orgulhavam de presentear seus filhos com elas e tudo era visto com naturalidade e incentivava a responsabilidade.

Sem dúvida, a década de 1980 deixou vários legados e as armas de pressão não ficaram de fora.
Por ter atirado e caçado com armas de pressão naquela época e ter mais tarde me aprofundado em sua ciência, eu hoje, apesar de também gostar das armas de pressão da classe Magnum, afirmo que o melhor delas para diferentes tipos de uso, ainda se obtém com as armas de potência entre 16 e 20 Joules e para maior conforto nos tiros a alcances entre 15 e 20 metros as armas de pressão com potência entre 7 e 11 Joules são as preferidas e, como ainda fazem os Ingleses, limitando os tiros para caça em torno de 30 metros, as armas entre 11 e 16 Joules dão conta do recado com valorização da precisão devido ao baixo nível de recuo e ao conforto, que assim exigem menos do atirador. Ou seja, existe campo para todas.

Hoje em dia, no Brasil, devido às restrições e burocracia para se adquirir armas de fogo, muitos se inclinam a querer armas de pressão cada vez mais potentes e não observam que o excesso de potência, no caso das springers, exige muito mais do atirador quanto aos tiros com precisão e torna as armas desconfortáveis ao engatilhar e atirar e, por mais potente que seja, a arma de pressão convencional está muito aquém de qualquer carabina .22 LR, então, que ninguém se iluda.

Portanto, não nos esqueçamos dos princípios da década de 1980 quando o principal fundamento do tiro era acertar o alvo e não se exaurir com o peso e o esforço para comprimir a mola e, aos mais jovens que estão chegando agora, fica a dica e um pouco de história de uma época quando os produtos não eram tão variados, mas promoviam atividades saudáveis e responsáveis.

Autor: Nelson L. De Faria